

Votei no candidato Luiz Ignácio em todas as eleições em que ele concorreu a Presidente da República. Na maioria delas, como protesto contra a burguesia nacional que há quinhentos anos espolia o País. Acrescento: não sou, entretanto, seu defensor incondicional, nem, por outro lado, seu opositor radical, empedernido, que nada de positivo ver nos oito anos de seu governo. Néscio, também não sou. Vi o ex-torneiro mecânico empossado adquirir hábitos burgueses, incorporar o espírito do patrão, esquecer rapidamente o discurso das campanhas, manter a mesma agenda neoliberal iniciada por Fernandinho, o colorido, hoje seu aliado do peito. Em suma: Não vi realizadas as mudanças prometidas. De igual modo não vi mudados os fundamentos da economia, nem abolida a prática política franciscana com o Congresso Nacional, antes tão denunciada. Pelo contrário, vi afrouxados ainda mais os usos e costumes da Corte.
Politicamente, Lula é a tríplice encarnação de Prudêncio (Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas); de Peixoto (Nelson Rodrigues - Bonitinha, mas Ordinária) e de Macunaíma (Mário de Andrade – Macunaíma); o que, aliás, é a pedra angular do caráter nacional. É possível que nessa simbiose resida o “sucesso” de lula na vida pública.
Daí por que ousou fazer o que nem FHC, o entreguista, conseguiu: taxar os proventos dos aposentados, espancando a Carta Política da nação, desgraçadamente com apoio do STF, destinado constitucionalmente para ser seu guardião.
Adepto do besteirol, dono de um hímen político complacente à corrupção epidêmica da “companheirada” e portador de um emocionalismo piegas, incompatível com o trato das elevadas questões de Estado, o apedeuta soube, todavia, dedicar-se ferrenha e desesperadamente ao culto à própria personalidade, mediante uma prática populista inconseqüente, típica das que aqui vigoraram no período de 30 a 60 (Ver varguismo, janismo, ademarismo). Para se ter idéia da propaganda personalista do lulismo, diz-se que no nordeste – onde é unanimidade, quase - corre mais risco de vida quem crítica Lula do que quem blasfema contra padre Cícero, insulta Lampião ou renega a genialidade de Luiz Gonzaga, as maiores expressões de sua cultura popular.
No final de seu segundo mandato presidencial, uma vez aparelhado o Estado e regiamente alugada a mídia pistoleira, sabugo higiênico de todos os governos, o lulismo apontou como seu principal legado a ascensão de milhões de brasileiros à classe média e ao mundo do consumo. Na verdade, esse fenômeno econômico, que não tem a dimensão apregoada, se sustenta menos no aumento da renda média do que no processo de endividamento via crédito fácil; este a preços estratosféricos, com o que não se importa a plebe crédula, incauta, malta e ignara, para quem, cabendo no salário, não importa o preço final.
Esquecem os Goebbels do lulismo que não se consegue enganar a todos o tempo todo e que o tempo é o senhor da razão.
Hoje, passada a grande farra, seu preço nos é apresentado: Corte de cinqüenta bilhões no orçamento em curso; contenção iminente de viagens e gastos de brasileiros no exterior; corrida ao dollar; engessamento dos reajustes do salário mínimo e dos proventos do funcionalismo; volta da inflação – 7% (anualizada em janeiro/2011) para quem ganha até 2,5 salários mínimos; e contenção dos investimentos em geral, inclusive os do PAC, prioridade da Presidente Rousseff, provável hóspede de nossa Barreira do Inferno no período carnavalesco.
Lembram daquela história do trem de alta velocidade, ligando São Paulo ao Rio de Janeiro, que teria vinte bilhões de reais financiados pelo BNDES? É vaquinha que foi pro brejo. No geral, não sobra muito em que se pode acreditar, senão quando a educação chegar ao povão, o eleitor adquirir consciência crítica e o voto deixar de ser uma mercadoria sem nota, trocada no atacado por esmolas institucionalizadas. Como consolo e enquanto seu lobo não vem, vou aguardar de camarote a natural revolta da criatura contra o criador, o que em política é infalível. Só tenho uma dúvida: quando vai se tornar pública.
2 comentários:
concordo com tudo que foi postado, no entanto o autor poderia ter usado um linguajar mais apropriado ao nosso povo.
Eu e toda Ceará-Mirim estavamos com saudades dos comentários inteligentíssimos do Dr. Ricardo Sobral,fico triste de saber que o nobre advogado afastou-se da nossa política local,uma mente tão rica em uma cidade de políticos fracos,gostaria de ver o Doutor criticando e comentando a atual situação que passa nosso pobre Ceará-Mirim.
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