10/06/2020

A DERROTA DOS PREFEITOS - POR J. R. GUZZO



Como a inépcia aumenta o custo da pandemia

Brasil está tendo de encarar um plus a mais, em matéria de desgraça explícita, com a combinação desse vírus mortal que nos atormenta com a inépcia desvairada por parte dos “gestores” a quem, para infelicidade geral da nação, o destino entregou a tarefa de administrar a nossa vida durante estes tempos difíceis. A covid-19 já é um horror mais do que suficiente para qualquer um. Mas no caso do Brasil o preço a pagar está sendo o dobro (mais, talvez?) do que poderia ser, pois as “administrações regionais”, a quem o Supremo Tribunal Federal deu poderes de AI-5 para decidir tudo sobre a epidemia, mostraram até agora uma inépcia sem limites para executar a tarefa que lhes foi entregue.

Nada fora do padrão, é claro: o Brasil sofre a doença crônica do “mau governo” desde o governador-geral Tomé de Souza. Em condições normais de temperatura e pressão, os brasileiros se acostumaram, bem ou mal, a conviver com a incompetência sem limites dos governantes; aguenta-se a roubalheira diária, a produção permanente de dificuldades para quem trabalha, os impostos pagos e jogados no lixo, a incapacidade de ter ideias decentes, a estupidez da burocracia e por aí afora. Mas quando chega um momento como o atual, em que dificuldades fora do comum exigiriam a presença nos governos de pessoas capazes de fazer alguma coisa mais inteligente do que se faz na média, o que se vê é a qualidade miserável, tanto do ponto de vista mental como do ponto de vista profissional, dos que são pagos para tomar decisões.

A observação mais simples dos fatos mostra que indivíduos que não conseguiriam cuidar direito nem de um aquário com dois peixes se veem, por força de um sistema político-eleitoral suicida, à frente de cidades com milhões de habitantes para administrar — e com os poderes de “tempos de guerra” que uma decisão aberrante do STF lhes concedeu. Como um negócio desses poderia dar certo? Não pode e não dá. Ninguém aqui é louco para dizer que o governo federal, no seu conjunto ou nos seus detalhes, seria melhor que os 27 governos estaduais e os 5.500 prefeitos para enfrentar uma calamidade com o calibre da covid-19. O Brasil é o Brasil, e o nível dos 12 milhões de funcionários que nos governam nos três níveis da administração é basicamente o mesmo; não há gênios federais e idiotas municipais. Mas isso não muda em nada o desastre que está sendo imposto ao país e à sua população pela inépcia dos que mandam em alguma coisa.

A derrota dos prefeitos - Revista Oeste

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