01/02/2017

HISTÓRIA DOS ENGENHOS DE CEARÁ-MIRIM - POR ACLA

2 – Engenho Verde Nasce

O Engenho Verde Nasce foi um dos primeiros engenhos fundados no vale do Ceará-Mirim, na primeira metade do século XIX, entre os anos de 1845/1846. Com suas atividades a pleno vapor, teve como seu fundador o Dr. Victor José de Castro Barroca.
Dr. Victor Barroca era um homem culto, nascido no dia 15 de junho de 1820. Em 1844, contando apenas 24 anos, se tornou Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Olinda (PE), sendo nomeado para o cargo de Juiz Municipal de Ceará-Mirim. Em breve tempo também se elege deputado provincial na legislatura de 1846/1851.
Um dos seus filhos (Marcello Olympio de Oliveira Barroca), é enviado para estudar na Inglaterra, atitude muito em voga da burguesia açucareira para com seus filhos homens. Ao escolher a Inglaterra como porta de entrada para uma educação de qualidade, o Dr. Victor diferenciou-se dos demais senhores de engenhos que sempre encaminhavam seus filhos para Portugal e/ou França.
Desde o início várias ações pertinentes, marcaram a história desse engenho. Um deles se refere à casa-grande, que foi tombada pela Prefeitura de Ceará-Mirim em 22 de dezembro de 1989, atualmente sem nenhuma identificação no local de sua antiga existência, posto que era uma casa-grande sem a beleza, grandeza e fausto de outras da região como as casas dos engenhos Cruzeiro, Umburanas e Guaporé; todavia marcada por um grande valor histórico, social, político e econômico, pois foi lá nesta casa de beleza simples, que nasceu o escritor Nilo Pereira. Casa esta que também foi palco de grandes reuniões políticas, onde Dr. Victor Barroca recebia seus amigos e políticos como o Deputado Tarquínio Bráulio de Souza Amarantho. De lá saíram grandes decisões relacionadas a crise econômica que se abatera sobre a monocultura da cana de açúcar no vale do Ceará-Mirim.
Era uma casa simples, sem requintes nem ornatos, considerando-se as demais casas grandes de outros engenhos da região. Era no entanto aconchegante e ventilada dado a grande porta de entrada e das muitas janelas frontais e dos alpendres avarandados. Nesta casa grande também viveu a inglesa Emma Campbell Barroca, de religião anglicana, que casou na Inglaterra com Marcelo Barroca e veio para o Brasil, em especial para o engenho Verde Nasce em Ceará-Mirim/RN. Emma faleceu aos 27 anos, todavia as informações sobre a causa de sua morte são confusas; as oficiais e/ou as estórias contadas, dizem que ela faleceu pelas dores da saudade de sua terra e de sua família; outras de parto, outros mais, de uma febre fatal. O fato é que o seu corpo não pode ser enterrado no cemitério local, simplesmente por ela não ser católica, apostólica romana, pois professava o anglicanismo. Seu marido que muito a amava, a enterrou numa colina, também comumente chamada de outeiro, em sua propriedade, palco de encontros do casal para verem o pôr do sol. Nesse lugar de lembranças, Marcello Barroca construiu um suntuoso mausoléu para sua Emma, que ao longo do tempo, muitas vezes foi violado por saqueadores em busca de ouro e joias preciosas que possivelmente deveriam ter sido enterradas com ela. Nada dessas coisas nunca foram encontradas, coisas da imaginação e ganância humana. Hoje lastimavelmente, esse marco histórico aos poucos desaparece do Verde Nasce por falta de preservação e respeito ao patrimônio cultural da cidade. Mais uma ruína transformada pela história do ontem belo, e do hoje transformado em ruínas.
O engenho Verde Nasce produziu de forma intercalada durante todo o século XX, enfrentando crises cíclicas que se abatiam sobre a economia açucareira, passando inclusive, períodos parados e outros funcionando. A produção do engenho resumia-se basicamente ao fabrico do açúcar mascavo e do mel, um dos melhores da região.
A particularidade referente ao engenho, está na presença de uma cerca de ferro fundido trazida da Inglaterra e junto com ela, um grande portão de ferro que dividia uma parte da propriedade a qual impedia a passagem de animais. A referida cerca demarcava no vale a presença da revolução industrial em Ceará-Mirim e sua consolidação através das máquinas a vapor trazidas da cidade de Liverpool/Inglaterra.
O engenho possuía casa de purgar, onde ficava o açúcar mascavo em grandes tachos de madeira que deixavam escorrer o mel de furo (uma espécie de melado bem escuro e consistente com gosto forte, mas saboroso), a balança de pesagem e o secador onde o açúcar era espalhado ao sol antes de ser ensacado para a venda.
O engenho Verde Nasce foi vendido ao coronel da Guarda Nacional Felismino Noronha do Rêgo Dantas, líder político e proprietário de outros engenhos, tais quais: o engenho União e o engenho Guarani, e depois passados para os seus herdeiros como o deputado estadual Herbert Washington Dantas – Betinho – e seus filhos.
Na realidade, o conjunto arquitetônico do Verde Nasce, localizado na zona rural, sempre teve importância no mercado açucareiro local e interestadual, cuja vinculação estabelecida com a cidade do Ceará-Mirim sempre muito decisiva, pois as suas atividades econômicas, políticas e mercadológicas, o transformou em um núcleo ativo e participante da vida urbana ceará-mirinense.
 
ACLA: Academia Cearamirinense de Letras e Artes 

 
Comentário do imortal Dr. Ricardo Sobral 

A casa grande do Engenho Verde Nasce desabou pela ação das intempéries já faz tempo.  O túmulo de Emma ainda existe,  embora danificado. O Engenho encontra-se montado, em bom estado de conservação e apto a funcionar.  Entretanto, sua atividade, nos moldes tradicionais, não se mostra mais viável economicamente. Sua safra de cana é vendida como ração animal nos anos de seca e, nos de inverno regular,  fornecida para a destilaria da Ypioca em Pureza.  O importante é que os herdeiros de Herbert Dantas preservam sua originalidade, de modo que atrai visitaçāo e se pode ver como era composto um engenho de cana de açucar. Afinal, dos oitenta engenhos que existiram em Ceará-Mirim,  nenhum deles funciona mais. Estão todos de fogo morto.  Na maioria, não se encontra nem as ruínas. Em todo o vale não existem mais que dez bueiros em pé. As três antigas usinas - Santa Tereza,  Ilha Bela e São Francisco - já não funcionam. Esta, foi a última a morrer, vítima de  disputa judicial. Chegou a possuir 16 mil hectares de terras; as quais hoje não somam seis mil. Seu parque industrial encontra-se sucateado. As duas destilarias surgidas na década de oitenta fecharam.
 Três ou quatro produtores de cana que ainda existem em atividade no Ceará-Mirim fornecem para a Usina Estivas em Arêz,  vizinho a Goianinha. Mais da metade das terras outrora cultivadas e produtivas do vale do Ceará-Mirim são hoje assentamentos rurais. Mais da metade da outra metade são palcos de acampamentos do MST. Existe um tabu no nordeste: usina fechou não abre mais. O atual controlador da Usina São Francisco diz que,  assim que tiver segurança jurídica,  vai quebrar o tabu. Todo o município,  onde o desemprego no campo é grande e a criminalidade cresce em progressão geométrica,  espera a retomada da atividade, que sempre foi a base de sustentação de sua economia.

Um comentário:

Jamilly disse...

Responda:

1- Você conhece os engenhos de Ceará Mirim? Quais?

2- Você conhece alguém, pai, tio, avô, que já trabalhou em algum engenho em Ceará
Mirim?

3- Você acha que o poder público deveria cuidar melhor do patrimônio histórico de
Ceará mirim? Justifique a sua resposta.