27/11/2014

SÓ LEMBRANÇAS: PERFÍS CEARAMIRINENSES!

 
Por Ricardo Sobral

ANTÔNIO DOMINGOS
Antônio Domingos, por ser homossexual, também era chamado pelo vulgo de Maria Dominga.

Era um preto alto, magro, afilado, elétrico, acelerado, que andava nas ruas imitando o trem, ou melhor, a maria fumaça. Quando alguém gritava olha o trem, ele dava um show e ainda fazia o apito da máquina de ferro.


Bebia cachaça todo santo dia e vestia-se sempre de branco, calçando tamancos de madeira bem altos, feitos por ele mesmo, que era um exímio carpinteiro. Nos domingos e feriados acrescentava à indumentária um chapeu de madeira, também branco e por ele confeccionado. Interessante notar que Antônio Domingos não lateralizava. Seus trejeitos, tiques nervosos, requebros e salamaleques, imitando o trem, eram sempre e invariavelmente para frente e para trás, Norte-Sul, pois com ele não havia o Leste-Oeste da bicharada de hoje. Era devoto de Padim Pade Ciço do Juazeiro, razão pela qual cumprimentava a todos com a mão espalmada no sentido vertical pedindo 'a benção meu padim'. Era tambem devoto de Nossa Senhora das Dores. Quando estava muito bicado, reunia as duas mãos delgadas em concha ao pé do ouvido esquerdo e cantava contrito e tristemente com voz metálica em seu louvor: 'Nossa Sinhora das Dore...'


Quando chamado de Maria Dominga pelas ladeiras e descaminhos da cidade, brandia uma bengala, antes de responder: 'me respeite'.


Quando terminava de emadeirar uma casa costumava correr imitando o trem por sobre a linha principal. Nunca levou sequer uma queda. Antônio Domingos foi uma figura ímpar, popular, representativa de sua época, que merece ser lembrada.

Nenhum comentário: