20/06/2019

O PALHAÇO NA LINHA. LADRÃO DE GALINHA.

Por: Carlinhos Supla. 

Foi-se o tempo, que o tempo não esquece. Que nas terras do saudoso prof Izulamar, do Barão e de Barau. Este último figura ilustre e folclórica, assim como o seu irmão. Nosso querido Chospa. Com suas inseparáveis chaves penduradas em suas inseparáveis calças Jeans. Acompanhadas pelas suas camisas de manga longa, de botões abertos e camiseta básica cobrindo seus peitos. Há quem diga que ele não tem. Pois, nunca foram vistos. Que maldade com o nosso amigo Chospa. Que aliás merece um texto exclusivo, em outro momento. 

O tempo não esquece, que nossa CEARÁ mirim era conhecida, vista, comentada e falada, como cidade pacata, tranquila de se morar. Com suas madrugadas desertas e calmas. Que o único medo das pessoas era as rasga mortalhas. Um tipo de ave de rapina(coruja) que viviam nas torres da igreja matriz. Que tinha hábitos noturnos e saiam nas madrugadas para se alimentarem.

Tempo esse, onde as pessoas viviam com suas portas e janelas abertas, sem grades de proteção. Alguns até dormiam assim. 

Tempo esse, que emprego de vigia quase não existia. Contávamos nos dedos. As agências bancárias, apenas um vigia era suficiente. O vigia do Armazém Ramalho. E o famoso vigia da praça Barão de CEARÁ mirim. Da igreja matriz. Onde a única função, era evitar alguém de se banhar na piscina da fonte luminosa(orgulho da cidade na época) e pisar na grama cuidada impecavelmente por seus jardineiros.

Assim, como os vigias, "nossos ladrões" também eram contados nos dedos. Na minha velha infância me trás lembranças claras. Lembro de "Cabrinha." Um cabeceiro que era trabalhador, mas, nas horas vagas pegava frutas e verduras na feira sem o consentimento dos seus respectivos donos. "Vida torta." Era um caso perdido. E o famoso "João doido." Que de doido não tinha nada. Usava sua "loucura" para se beneficiar nas suas investidas como um bom ladrão que era.

Mas, os mais famosos da época, eram os ladrões de galinha. E o mais famoso, era o "Edmar Matias." O famoso "Edinho."
 Um cinquentão com seus 1,90 de altura. Que andava com um saco nas costas, levando seus pertences e seus objetos de furtos. Mas, que os adultos nos diziam, que era pra levar menino na rua. Até hoje, me vejo correndo em direção pra casa com medo de Edinho. Que os calcanhares batiam na bunda. 

Em uma de suas  investidas, no distrito de Capela, Edinho deu seu ar das graças.

Numa noite calma de sábado, que antecedia a feira, que era na época aos domingos. Edinho precisa urgentemente furtar uma galinha para no dia seguinte vender. 

Entrou numa casa de uma família grande. Mas, grande era o seu tamanho e sua ousadia. Pelo quintal, entrou na casa sem muros e cercas, direto para o poleiro, onde dormiam as galinhas. Com muitas galinhas a oferecer, subiu no poleiro sem muito barulho, fazendo assim seu ofício perfeito até então. 

Com direito a escolher a galinha que quisesse, pegou a maior de todas. Mas, a sua ousadia e magreza não eram maiores do que seu peso. Por ser muito alto.

O poleiro feito para sustentar galinhas, veio a baixo com Edinho. Num barulho ensurdecedor. Edinho no chão com muitas galinhas e varas de madeira por cima do vara pau ladrão. 

Acordando todos da casa,  o patriarca e seus filhos abrem a porta que dar pra o quintal. Cada um com um candeeiro na mão em direção ao poleiro, sem verem Edinho na noite escura gritam:

-O QUE É ISSO?
-O QUE É ISSO?
-O QUE É ISSO? 

Edinho que era irônico e sarcástico, irado e cheio de cocô de galinha na cara, responde aos berros:

-É O SEU SERVIÇO MAL FEITO... FÍ DE RAPARIGA...

E assim, Edinho não teve galinha pra vender no dia seguinte. Em uma das suas poucas investidas mal sucedidas.

Hoje não sinto mais medo dos homens de saco como Edinho. Tenho saudades...

Eu era feliz e não sabia.

Tenho dito.

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