01/05/2018

ABL: A CRISE CHEGA NA CASA DOS "IMORTAIS"

Procuram-se pobres mortais para salas da ABL: orçamento cai à metade e chás e jetons são cortados

Que o Rio de Janeiro vive um de seus piores infernos astrais não é novidade para ninguém. A crise, porém, também passou a atingir em cheio a vetusta Academia Brasileira de Letras (ABL), que só tem conseguido alugar a metade das 300 salas de sua sede, o Palácio Austregésilo de Athayde, vizinho ao Petit Trianon, no Centro da cidade, e sua principal fonte de renda. O orçamento mensal de R$ 2,4 milhões caiu a R$ 1,2 milhão. Com isso, os encontros e chás das terças-feiras foram cancelados em fevereiro, mês em que foram demitidos 12 dos 140 funcionários. Apesar da relativa penúria, as sessões das quintas-feiras precedidas pelo tradicional chá foram preservadas, sem abalos a seu requintado padrão de qualidade. É o que garante o acadêmico Arnaldo Niskier, 83 anos, 35 de casa, segundo decano (o primeiro é José Sarney), com assento na cadeira 18. 
“É triste ver a academia em crise. O país está em crise, e o Rio é um dos estados que mais sofrem. Então, os problemas aqui também são maiores”, observa. De acordo com Niskier, a supressão das reuniões de terça-feira foi uma maneira de preservar “o essencial”, o chá, momento de reflexão que precede a sessão propriamente dita das quintas-feiras. “Nesses encontros discutimos problemas da academia e examinamos questões ligadas à língua e à cultura brasileiras”, esclarece Niskier. Neste aspecto, o acadêmico ressalta, nada mudou: o chá preto continua sendo da marca inglesa Twinings, servido em porcelana de Sèvres, com fartura de doces e salgados, sob a iluminação dos lustres de cristal. 

Jornal do Brasil

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