A QUEM INTERESSAR POSSA

Desculpem-me, mas eu não sou de apelar. Nós não somos nada perto de vocês. Vocês lembram os espartanos, em milhões, fortes e com espadas reluzentes nas mãos, marchando com toda fúria e confiança que enchem o peito. Vocês são ricos, numerosos, influentes, habilidosos, virtuosos, parece até que vocês dominam a razão, e esta esparrama perenemente sobre o mundo, o seu mundo. Vocês estão em todas as partes, com os sorrisos amarelos e gananciosos, sempre com a razão. Sinceramente, diante disso, eu não sou nada, não somos nada. Somos, apenas, uma instituição na qual sempre está como linha fora perto da de vocês, é claro.

Não temos mídia ao nosso favor. Não fomos os escolhidos. Não nos tornamos famosos por sermos a maioria. E não somos tão virtuosos assim. Eu poderia até citar aquela máxima “Antes qualidade que quantidade”, porém seria muito clichê da minha parte. Eu tenho inveja disso, por excelência. Nas estatísticas, temos, apenas, uma mancha insignificante nesse país continental, enquanto a sua instituição passa dos trinta e cinco milhões de torcedores. Nossa Senhora! Isso é bem maior que muitos países por esse planeta afora. Quanta inveja a minha. Vocês “são” uma Nação!

Entretanto, meus caros, os livros me ensinaram lógica. Bem eu, usuário da mais simples lógica dos seres humanos, a regra de três simples (quando uma grandeza cresce, ou diminui, outra cresce, ou diminui, respectivamente, em proporcionalidade), interpreto a razão deste mundo. Então, vamos a ela:

1)       Maior Torcida - Maior Renda;

2)       Força Midiática - Maior Influência;

3)       Força da Federação - Maior a Chance de Saldo Positivo.

Interpretando as constantes.

1) Por ter a maior renda, devido há existência exorbitante de torcedores, têm o melhor e maior estádio, melhor academia de jogadores, melhor centro de treinamento e melhor local de concentração do mundo inteiro;

2) Por ter a maior massa, a mídia escolhe assuntos relacionados à vocês, conferindo, dessa maneira, a uma maior influência na esfera de informações;

3) Com a Força da Federação, os títulos ou honras discutíveis estarão sempre aos seus pés.

Nota: Peço-lhes tranquilidade, não sou eu que afirmo, são os números. Logo, corrijam-me se estou errado, por favor.

Continuando.

Os empresários amam a sua marca. Eles aplicam com destreza, e o dinheiro volta como num conto de fadas. Tudo perfeito, não é? Os seus atores são elegantes, famosos, experientes. Têm salários milionários, são quase deuses. Os seus dirigentes são experts em administração por Haward... Os meus não, são bem simples. Talvez muitos dos meus vocês nem conheçam. Nem voga citar ou caracterizar. Porque perto de vocês...

Agora, vamos ao outro lado da moeda. Indubitavelmente, já conceituei por completo a sua instituição. Se tudo isso fosse uma jogo de cartas de baralho, vocês receberiam uma ou duas cartas a mais. Entendem-me?

“Querem entender o sistema? Deem um passo para a esquerda e outro para trás!”.

Devido a nossa refulgência não tão notória quanto a de vocês, a razão nos esqueceu, por parte. Porém, meu caros, há um brilho do lado de cá. Uma luz na qual nem todos conseguem enxergar. Uma luz que passou um tempo fraca, devido a sinceridade das derrotas, das más administrações, da honestidade acima de tudo, mas, que, de um tempo para cá volta a brilhar com tanta intensidade que ofusca até a maior das forças.

Somos como um solo de blues. Surgimos com os mais altos dos tons. Surgimos com a alma, com o delírio, da ideologia de acreditar até o último minuto. Somos o da virada, somos o do amor. Não estamos nos escândalos, nas farsas, nas mentiras, nas esperanças falsas. Não é do nosso feitio. Somos Vasco da Gama. E para sempre seremos. Com nossa faixa oblíqua no peito e com a Cruz Vermelha no coração. Seremos eternos não por imensidão, mas sim por coragem, por valentia, por desejo de ser sempre grande. Vocês são grandes por uma mídia falsa e uma torcida que não enche estádio. Essa é a grandeza de vocês?

Sejam sinceros. Sejam torcedores de verdade. Só assim, poderão entender como o sistema funciona. Sim, por favor, não precisam me bater e nem condenar, eu sou como vocês. Só que um pouco diferente. Estou nas oitavas de final da Copa Libertadores e estou na final da Taça Rio. E além, para não passar em branco, eliminei vocês duas vezes no mesmo semestre. Quanta alegria a minha não? Portanto, voltem para os seus contêineres ou para um estádio alugado qualquer. Ficarei na minha casa de 85 anos de glórias. E se formos derrotados com honestidade, no apito final, trocaremos camisas e voltaremos para casa.

Podem até tentar diminuir o meu volume, o nosso volume, contudo sempre estaremos ecoando, contra tudo e contra todos. Em nosso sistema não existe o botão off. Nem de férias.

Adolpho Ramsés (24/04/2012 - 20:13)