30/06/2024

O CIRCO: PICADEIRO - BOLÍVIA / PALHAÇOS - PRESIDENTE E GENERAL

O Grande Teatro Boliviano ou Todos estão “Jodidos”

“Lobo em pele de cordeiro. Máscaras. Teatro. Falsidade, atualmente essa é a nossa realidade”. (Paolla Cristiny).

Inicio o texto dessa semana com o poema do escritor Primo Levi intitulado “Para Adolf Eichmann”, o carrasco nazista que foi preso na Argentina em 1960 e foi levado a julgamento:

“... E você chegou, nosso precioso inimigo,/ Você, criatura deserta, homem cercado de morte./ O que saberá dizer agora, diante de nossa assembleia? /Jurará por um deus? Mas que deus?/ Saltará contente sobre o túmulo?/ Ou se lamentará, como o homem operoso por fim se lamenta,/ A quem a vida foi breve para tão longa arte,/ De sua terrível arte incompleta,/ Dos treze milhões que ainda vivem”?

O escritor Robson Camargo no texto “O Espetáculo do Melodrama” define “Teatro” como "lugar aonde se vai para ver" e “onde, simultaneamente, acontece o drama como seu complemento visto, real e imaginário. Assim, o representado no palco é imaginado de outras formas pela plateia. Toda reflexão que tenha o drama como objeto precisa se apoiar numa tríade teatral: “quem vê”, “o que se vê”, “e o imaginado”.

Nesse espaço tudo pode ter mais de um sentido.

Afirmam os historiadores que a Bolívia é um picadeiro que em mais de 200 anos de historia já teve 194 tentativas de golpes. É um palco onde os espectadores de todo mundo, espantados, observam o desenrolar do próximo enredo ou do próximo golpe. Como um moto-continuo eterno violando todas as Leis da Termodinâmica, os atores que desempenham os papeis no Palco Boliviano se revezam todos os anos, desde a Independência, para os espectadores do país e do mundo, apoiando-se na primeira tríade do Teatro: “quem vê”.

Assim, nessa quarta-feira (26), uma nova-velha peça foi encenada: mais uma tentativa de golpe de Estado.

O personagem principal, general Juan José Zuñiga, que no dia anterior tinha sido afastado do cargo de comandante do Exército após fazer ameaças ao ex-presidente Evo Morales - ele afirmou que prenderia Morales caso o ex-presidente volte ao poder.

Pela trama que se desenrolou aos olhos dos espectadores, Evo Morales, o cocaleiro que implantou o socialismo no país, quer voltar ao poder de qualquer jeito e isso deixou o General irritado.

Juan José Zuñiga, o General abespinhado e defensor da democracia, cercou a Praça Murillo no centro de La Paz, onde fica a sede do Executivo, o Palácio Quemado, e o Congresso com tropas e blindados.

A intenção era prender todos e tomar o poder. Segundo o General, dessa forma ele estaria defendendo e preservando a democracia. Armou-se uma tremenda confusão, quase igual aos sambas de Zeca Pagodinho.

Zuñiga entrou no Palácio e deu de cara com o presidente Luis Arce Catacora. Amigavelmente os dois bateram um papo e a partir daí tudo voltou ao normal.

Nem o Presidente foi preso e destituído, nem o golpe aconteceu. Zuñiga, estranhamente, deu meia-volta com seus homens e blindados camuflados e foi embora.

Mais tarde o Presidente Arce Catacora apareceu na televisão afirmando que “deu um pito no General” e por tabela substituiu todos os ministros militares.

A plateia boliviana e mundial nada entendeu.

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