08/07/2022

ORÇAMENTO SECRETO: DANOU-SE - RECEBI R$ 50 MILHÕES COMO GRATIDÃO POR APOIO A PACHECO - DIZ SENADOR

Senador diz que recebeu R$ 50 milhões como 'gratidão' por apoio a Pacheco

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou ter recebido R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto como forma de “gratidão” por ter apoiado a campanha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à Presidência do Senado, em fevereiro 2021. A afirmação foi feita em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo. O parlamentar contou ter sido informado sobre o recurso depois do resultado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), que articulou a campanha de Pacheco para ser seu sucessor.

Do Val afirmou que o critério de divisão das emendas do orçamento secreto foi informado pelo atual presidente do Senado. “O Rodrigo Pacheco virou e falou para mim assim: ‘Olha, Marcos, nós vamos fazer o seguinte: os líderes vão receber tanto, os líderes de bancada tanto, essa foi a nossa divisão’. E ele me passou isso porque eu fui um dos que ajudei ele (sic) a ser eleito presidente do Senado. E aí eu falei: ‘Pô, legal, está transparente e tal’. Aí ele falou: ‘Olha, se a gente conseguir mais uma gordura, eu direciono para você’. Não foi uma coisa (do tipo): ‘Mas eu preciso que você me apoie’”.

A conversa teria acontecido quando Pacheco assumiu o cargo. “Ele chamou os quem eram os mais próximos, que apoiaram a campanha dele, os líderes, e aí ele tornou: ‘Olha, o meu critério vai ser esse’. E todo mundo concordou. Então, ficou uma coisa transparente, assim, (e) não: ‘Pô, quem será que ganhou mais?’”, disse o senador. Do Val contou que Pacheco não falou em valores “porque ele não sabia o que viria, o que o Executivo iria encaminhar, mas que era em proporcionalidade”.

“E, assim, de todo o coração, o Rodrigo para mim é um cara fora da curva, um cara corretíssimo, muito equilibrado. Vamos dizer assim, distensionou as cordas entre os Poderes. Então, eu até perguntei para ele se ele pensa em se reeleger. Ele falou que está pensando. Eu falei: ‘Olha, então você vai ter um cabo eleitoral porque eu vou brigar para que você continue’. Então, muita gente que era contrária a ele, o Podemos, que era contrário, hoje a maioria fala: ‘Pô, você me surpreendeu’. E eu dizia para o Podemos: ‘Viu? Eu falei para vocês’”, relatou na entrevista.

O senador contou não saber qual montante foi prometido ao Podemos, e então relatou ter sido comunicado por Alcolumbre. “Para mim, quem me ligou dizendo foi até o Davi [Alcolumbre], não foi nem o Rodrigo. E aí com o Davi que eu perguntei. Eu achei até muito para eu encaminhar para o Estado [Espírito Santo], mas como [é] questão de saúde, eu não vou negar. Eu perguntei: ‘Mas teve algum critério?’ Ele só falou: ‘Aquele critério que o Rodrigo falou para vocês lá no início’. ‘Ah, tá, entendi’. Mas ele falou: ‘Só que o Rodrigo te colocou no critério como se você fosse um líder pela gratidão de você ter ajudado a campanha dele a presidente do Senado’. Eu falei: ‘Poxa, obrigado, não vou negar e vou indicar’.”, acrescentou.

Ele confirmou, em seguida, que o valor foi de R$ 50 milhões do orçamento de 2021, para ser pago neste ano. Do Val frisa que não precisa esconder o repasse e que comunicou ao Ministério Público os valores e a destinação dos recursos. O senador repete que não foi condicionado a apoiar Pacheco para receber a verba.

“O critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele (sic) enquanto outros não apoiavam. Mas ele não prometeu. Em nome da minha filha, eu tenho uma, tem 16 anos, em nome dela eu te digo [que] em momento algum ele me prometeu um real tipo assim: ‘Me apoie que eu te dou um real’. Ou: ‘Me apoie que eu te dou a presidência de uma comissão’. Nada, nada. Absolutamente, nada”, garantiu.

De acordo com Do Val, o termo usado por Alcolumbre para justificar o valor recebido foi “gratidão”. “Gratidão, você resumiu. Gratidão, gratidão”, disse ao repórter do Estado de S. Paulo quando questionado.

O senador foi questionado, em seguida, se não se tratava de ação semelhante à compra de votos. “Olha, assim, no critério que ele tinha colocado, eu acho que eu ia receber... Era assim: a minha parte seria de R$ 10, 15, 20 [milhões], alguma coisa assim, entendeu? Então, como ele me colocou, me deu essa gratidão, como você falou, eu recebi. E aí, pode ser que eu esteja enganado, vocês que levantam tudo, eu acho que eu recebi o mesmo que os líderes”, respondeu, completando ter sido beneficiado com “certeza” com base no apoio a Pacheco.

Marcos do Val encerra a entrevista afirmando que tem “de ver para correr atrás” para fazer indicação de emendas de relator neste ano, porque até o momento, não fez.
Marcos do Val diz ter sido ‘mal interpretado’

Depois da publicação da entrevista, Marcos do Val emitiu uma nota afirmando ter sido “mal interpretado”. 

Leia a íntegra:

“Só posso acreditar que fui mal interpretado quando concedi uma entrevista por telefone. Jamais houve qualquer tipo de negociação política para a eleição do presidente Rodrigo Pacheco, que envolvesse recursos orçamentários. Afirmo com toda certeza que jamais aconteceu. Fiz referência a existência de critérios no Senado para indicações transparentes de recursos por senadores, inclusive elogiando a postura do presidente Pacheco nesse sentido.

Sobre as específicas indicações que fiz de emendas orçamentárias desde que assumi mandato, isso é uma prerrogativa parlamentar, totalmente lícita, transparente, um compromisso que assumi quando eleito para ajudar o meu estado e seus municípios. Reforço mais uma vez que todo o recurso orçamentário recebido foi destinado ao Espírito Santo e por iniciativa própria sempre foram informados na sua integralidade ao Ministério Público do ES. Peço desculpas por eventual mal-entendido”.

otempo

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