30/03/2022

CIRO PEDROZA LANÇA LIVRO HOMENAGEANDO O BAIRRO DAS ROCAS EM NATAL

Ciro Pedroza lança livro 'Uma história das Rocas'

Uma rixa secular da Natal antiga dizia que “xaria não desce e canguleiro não sobe”. Xarias eram os moradores da Cidade Alta; e canguleiros, os da Ribeira e Rocas. No livro “Uma história das Rocas” (Editora Sebo Vermelho), o jornalista e publicitário Ciro Pedroza - um xaria que virou canguleiro - volta ao passado de um dos bairros mais antigos da capital para resgatar sua importância histórica. O livro terá duas data de lançamento: dia 31 (quinta), às 18h, no Themis Bar; e dia 02 (sábado), às 10h, no Mercado das Rocas.

As Rocas foi o bairro dos pescadores, do samba pioneiro, dos primeiros terreiros, das crônicas policiais, dos imigrantes, e de tantas outras histórias que Ciro pôde ver de perto. Mas a história que deu o pontapé em sua iniciativa de escrever o livro já tinha sido escrita em 1966 por Homero Homem, o clássico “Cabra das Rocas”. “Há uns quatro verões peguei esse livro pra ler, e foi um choque. Entrei num transe, comecei a lembrar de coisas sobre o bairro e sobre mim, e fui anotando tudo”, conta ele, sobre os “gatilhos”.

O exercício de memória logo partiu para uma pesquisa mais apurada, entre arquivos de jornais, livros, e depoimentos de moradores antigos, como o próprio pai do autor. “Eu nasci na Cidade Alta, e depois fui para as Rocas, nos braços de minha mãe. Fiquei por lá até a adolescência, no final da década de 70. Você sai das Rocas, mas as Rocas não sai de você”, afirma. Ciro ressalta que, apesar de sua vivência, não se trata de um livro autobiográfico. O foco é a história das Rocas – que se confunde com sua própria história.

Trabalhadores do mar

Bairro “irmão” da Ribeira, as Rocas também tem uma história que remete aos tempos coloniais. O registro mais antigo sobre o lugar é uma doação de terra feita em 1769, pelo senado da câmara de Natal, a dois irmãos. Ambos eram pescadores. O jornalista lembra que ao longo do tempo, as Rocas foi sendo construída por trabalhadores imigrantes. Primeiro, com o canteiro de obras para a ampliação do cais do Potengi, em 1887; e em seguida, com as oficinas da ferrovia, em 1906.

“O primeiro fluxo foi de pescadores que vinham de cidades litorâneas distantes. O segundo fluxo foi de gente do interior do estado, e não parou mais. Todos vinham pra cá com a esperança de uma vida nova e melhor”, diz. O bairro dos “marinheiros e proletários” deve até seu nome ao mar. Há várias versões: uma diz ser alusão ao Atol das Rocas, outra, que é uma tradução de “rochas” (do mar), em espanhol, e também a uma peça de madeira que os pescadores usavam para reforçar o mastros nos barcos.

Em uma Natal bem menor que a de hoje, as Rocas teve papéis importantes em vários segmentos. Ciro conta que o bairro já foi o maior termômetro político da cidade em campanhas passadas. “Candidatos de qualquer partido eram bem recebidos por lá. Era um povo que gostava de política, da fuzarca. O presidente Café Filho, não por acaso, era de lá. No livro eu cito vários políticos que saíram do bairro”, ressalta.

O estigma de violência que até hoje ronda o bairro também é citado no livro. Segundo Ciro, é algo que existe desde a época do “xarias x canguleiros”, mas que se intensificou à medida em que o local foi se tornando mais populoso e os problemas estruturais típicos do abandono público com as periferias se ampliou. “O programa Patrulha da Cidade, da Rádio Cabugi, explorava bastante isso da criminalidade por lá”, diz, referindo-se a uma prática sensacionalista antiga.

Um contraponto ao cotidiano violento, é o fato de que a educação sempre teve lugar no bairro. O Colégio Isabel Gondim foi a segunda escola pública de Natal, e existe até hoje. As Rocas também foi palco do projeto “De pé no chão também se aprende a ler”, em 1960, tendo a primeira escola acampamento.

O humor e a irreverência também marcaram o bairro. Ciro Pedroza exemplifica isso nos vários capítulos dedicados aos causos, lendas urbanas, e personagens marcantes que circularam no passado do bairro. “É impossível pensar nas Rocas sem humor, sem os chistes”, diz. Ele cita figuras peculiares, como os valentões Gilberto Gary e Luís Rola, que perdiam o juízo quando bebiam; a imponente Severina, Embaixatriz do Brasil; o “Conde” Mané Luís de Luxemburgo, e o bufão Zé Areia, com suas tiradas rápidas.

Entre os causos mais inusitados, houve o dia em que Nossa Senhora foi parar na delegacia; o caso do homem que vendia carne de jumento; o dia em que a amplificadora saiu do ar, e outras façanhas. Ciro conta que quase não terminava o livro, pois sempre aparecia algo novo para escrever. Tanto, que ele deixou espaço no final para que o próprio leitor escreva suas histórias (ou estórias) sobre o lugar. “Ainda há muito o que se revelar sobre a alma desse bairro”, escreveu.

Serviço:
“Uma história das Rocas”, de Ciro Pedroza. Lançamento: dia 31 (quinta), às 18h, no Themis Bar; e dia 02 (sábado), às 10h, no Mercado Modelo das Rocas.

TN

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