05/06/2021

A PANDEMIA PODE GERAR TRANSTORNOS SÉRIOS, TIPO ESGOTAMENTO FÍSICO E MENTAL

Esgotamento físico e mental durante a pandemia pode gerar transtornos sérios, como a Síndrome de Burnout

A sensação de cansaço e desestímulo é algo relativamente comum no cotidiano. Uma fase que, dependendo do contexto, pode ter origem psíquica e abalar profundamente a saúde mental de alguém. A pandemia trouxe esse sentimento para o dia-a-dia, e pode ser responsável pelo desencadeamento de distúrbios como a Síndrome de Burnout, e até mesmo algo mais específico, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já classificou como fadiga pandêmica. Tirar esse peso da mente é o mais novo desafio.

As pessoas estão se sentindo mais cansadas do que o normal. A pandemia colocou a todos em um estado de alerta constante, e isso pode ser refletido em todas as atividades comuns – principalmente, no trabalho. A Burnout, que também é conhecida como “síndrome do esgotamento profissional”, é um dos distúrbios mais evidentes nesse contexto atual. “Considerando o momento, realmente estamos mais esgotados física, mental, emocional e energeticamente”, afirma a psicóloga e jornalista Taciana Chiquetti.

Descoberta na década de 70 - período que foi marcado por diversos acontecimentos conturbados – a Síndrome de Burnout é muito comum no Brasil, atualmente. Segundo pesquisa realizada pela International Stress Management Association (ISMA-BR), 70% dos brasileiros sofrem as consequências do estresse. Destes, 30% são vítimas do Burnout.

Há uma reclamação geral de que as pessoas estão se sentindo menos motivadas, mais ansiosas, mais inseguras e com menos esperança, o que acentua a percepção de estar “se arrastando pela vida”, segundo Taciana. “Esse cansaço é gerado pela hipervigilância, reação natural diante dos diversos medos que a Covid 19 tem despertado nas pessoas ao redor do mundo”, explica.

A fadiga pandêmica pode trazer junto consigo, de acordo com a psicóloga, outros desequilíbrios emocionais e transtornos, como o TOC, depressão, ansiedade, síndrome do pânico, entre outros. “A pandemia impacta profundamente na saúde mental e emocional das pessoas, e ela se acentua justamente por causa do estado de alerta constante”, diz a psicóloga. Outro fator é quando a realidade profissional não está mais se aliando com os interesses da pessoa.

É uma questão de reflexão e percepção. “A gente tem que refletir sobre a nossa relação com o trabalho, se ele realmente faz sentido pra gente, se estamos nos sentindo recompensados com a troca, se está sendo justa com o que damos”, diz. Para Taciana, o alerta é dado quando o indivíduo começa a perder o prazer em trabalhar no que antes gostava, e passa a naturalizar coisas que costumavam ser contra os seus valores. A fadiga torna essa percepção de descontentamento mais intensa.

A Síndrome de Burnout pode se instalar nessas ocasiões de descontentamento, de forma física ou psicológica. Entre os sintomas estão o cansaço mental e físico excessivos; insônia; dificuldade de concentração; perda de apetite; irritabilidade; apatia; lapsos de memória; baixa autoestima; sentimentos de derrota e insegurança; pressão alta; tristeza excessiva; alterações repentinas de humor; dores na cabeça e no corpo. O diagnóstico é dado por meio de uma consulta médica com um psicólogo ou um psiquiatra.

Segundo a psicóloga, diante do perigo (real ou imaginário), ficamos em estado de alerta automaticamente, gerando tensões físicas como dores musculares e desconforto gastrointestinal, e psicológicas, como antecipações de situações de risco, agitação, dificuldade de concentração, entre outros. “Experimentar tudo isso de forma constante gera a fadiga, a exemplo do que ocorrer quando sobrecarregamos um músculo, resultando em fadiga muscular”, diz.

A sensação de fadiga tem afetado a todos de uma forma ampla, mas alguns grupos profissionais em particular têm sido mais afetados na pandemia, segundo Taciana, como médicos e profissionais da área de saúde em geral; os professores, que muitos não tiveram o preparo técnico ou emocional para lidar com o ensino remoto; além daqueles que precisam se expor mais, como motoristas e empregadas domésticas, e os profissionais autônomos, diretamente impactados pela questão econômica.

Normalmente, o Burnout acomete principalmente os workaholics (pessoas viciadas em trabalho), entretanto algumas profissões são mais propensas a desencadear o distúrbio, como profissionais da saúde, jornalistas, advogados, professores, policiais, carcereiros, oficiais de justiça, assistentes sociais, atendentes de telemarketing, bancários e executivos. No caso de algumas mulheres, a jornada dupla de trabalho - no emprego, em casa e com filhos - as tornam ainda mais vulneráveis.

Acompanhamento

O tratamento dessa fadiga psicológica varia com o caso, mas no geral exige psicoterapia e acompanhamento de forma constante, e eventualmente, medicamentos. “As pessoas realmente precisam de um acompanhamento psicológico para poder passar por essas mudanças, adaptações, momentos de luto e crise, de uma forma mais tranqüila”, diz Taciana. Ela ressalta que também acredita nas práticas integrativas e complementares em saúde, como acupuntura, reiki e aromaterapia, que ajudam bastante no equilíbrio.

Da mesma forma que é fácil desenvolver a fadiga e a Síndrome de Burnout, também é possível evitá-la com cuidados simples. Primeiramente, é preciso se cobrar menos, para além das exigências do trabalho; perfeição não existe. Criar uma rotina e organizar os afazeres da semana, quanto menos tarefas, menos ansiedade. Ter momentos de lazer: ler um livro, escutar uma canção ou assistir a um filme. Tirar folgas pendentes e usar as férias.

Cultivar relações saudáveis com colegas de trabalho, amigos ou familiares pode ajudar na sua saúde mental. E atenção: fugir de discussões desnecessárias. Para aqueles que sofrem com estresse, ansiedade ou esgotamento mental, exercício físico não é opção e faz parte da cura ou prevenção. No entanto, escolher uma prática que dê prazer faz com que a pessoa não desista no meio do caminho.

Melhorar a alimentação. Se está difícil melhorar os hábitos alimentares, pode-se começar diminuindo a quantidade de ingestão de bebidas alcoólicas e alimentos ultra-processados. Procurar se hidratar mais com água, chás ou sucos naturais, e inserir maior quantidade de frutas e legumes no dia a dia. Saber respirar também é importante. Fazer uma pausa de cinco minutos no dia para inspirar e expirar, com os olhos fechados, desviando o foco das preocupações, proporcionando uma sensação de alívio.

TN

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