23/05/2021

'MUITCHO DOIDA': BRASILEIRA QUE CULTIVA MACONHA QUER LEGALIZAR PLANTAÇÃO EM FAZENDA

Mulher que conseguiu primeira autorização para cultivar maconha para uso medicinal em casa agora luta para legalizar plantação em fazenda

Em dezembro de 2008, Margarete Santos de Brito deu à luz Sofia, sua primeira filha. A menina nasceu gorducha, cheia de apetite para mamar, mas com um “olhar estranho”. Aos 45 dias de vida, começou a ter espasmos. Logo foi diagnosticada com CDKL5, síndrome genética rara que causa convulsões frequentes, pela falta de uma determinada proteína no cérebro, e que não tem cura. “Sofri para caramba, chorei horrores.

Mas entendi que ter uma filha deficiente era uma missão”, lembra a advogada que sonhava em ser juíza. “A minha vida virou pelo avesso. É a história daquele texto (escrito por Emily Kingsley, em 1987): você se prepara para uma viagem à Holanda e, quando está quase chegando, o piloto avisa que vai pousar na Itália. Conhecer as belezas de outro lugar é um trabalho de ressignificação diário, que não é fácil.”

Margarete e o marido, o designer Marcos Langenbach, visitaram um sem-número de médicos, testaram um bocado de tratamentos, visitaram centro espírita e, através de um grupo no Facebook, tiveram notícia de uma menina americana, portadora da mesma síndrome de Sofia, que tinha conseguido reduzir o número de convulsões com o uso do óleo de maconha. “Pegamos o caminho das pedras com a família da Califórnia (onde o uso medicinal da cannabis é legalizado desde 1996), e encomendei um frasco, que chegou pelos Correios. Na época, o que fiz era considerado tráfico internacional de drogas. Mas, como mãe, eu faria qualquer coisa para melhorar o bem-estar da minha filha.”

Isso foi nos idos de 2013, o ano em que a advogada fundou a Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi). Destemida e articulada, nos últimos oito anos Margarete travou uma série de lutas, conquistou vitórias importantes e não se abateu com as derrotas. Em março de 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a fabricação e a venda de produtos para uso medicinal nas farmácias brasileiras. Há seis meses, a advogada comprou, com o marido, uma propriedade rural para cultivar maconha em escala suficiente para fornecer remédio para os 1.400 associados. A Sede Campestre da Apepi — Fazenda Sofia Langenbach fica em uma área de 600 mil metros quadrados em Paty do Alferes, no interior do Rio. “Se há um ano e meio uma vidente tivesse me falado que teríamos uma fazenda para plantar maconha, eu ia rir. Não foi nada planejado”, afirma. “Durante a pandemia, aumentou muito a procura por extrato de canabidiol, e entendemos que precisávamos crescer.”

O Globo

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