01/03/2021

DECRETO HIPÓCRITA: AS ESCOLAS AGLOMERAM, OS ÔNIBUS NÃO

Natalenses reclamam de aglomerações nos ônibus e pedem aumento da frota

A realidade de quem depende do sistema de transporte público de Natal é de ônibus lotados e longas esperas nas paradas, além da perda das 20 linhas da frota que foram suspensas no início da pandemia da Covid-19 e ainda não retornaram. Em um momento crítico da doença em território potiguar, que enfrenta altas taxas de ocupação de leitos críticos Covid, utilizar o transporte público tem sido um desafio para os moradores da capital. Desde o ano passado, o serviço está com a frota reduzida. 

A vendedora Raquel Souza, de 30 anos, que mora na Zona Norte de Natal, relatou ao Agora RN que todos os dias depende de duas linhas para chegar no shopping Midway Mall, onde trabalha. O maior problema, segundo ela, é no retorno para casa, por volta das 22h, quando os ônibus estão sempre lotados por causa da quantidade de gente saindo do trabalho. Raquel está com suspeita de Covid-19 e está afastada do trabalho atualmente. 

“Todos os dias, na volta para casa, o ônibus 73 da Reunidas já para de frente ao shopping lotado. Nem parece que estamos em pandemia. Nesse momento, estou em isolamento esperando o resultado do teste. No dia 24, meu último de trabalho antes do atestado, voltei para casa em pé no 73, com muitas dores no corpo”, lamentou. 

Já o auxiliar de serviços gerais Sueleide Cely Chacon, de 48 anos, morador da Zona Oeste de Natal, enfrenta o mesmo problema com o transporte que utiliza. “Eu moro em Felipe Camarão, trabalho no Tirol, pego dois ônibus, o 21 ou 63 para rodoviária e, de lá, pego o 41 para chegar no serviço. É do mesmo jeito para voltar. Com os ônibus cheios, fico com medo de andar neles, mas preciso trabalhar”, relatou. 

Os natalenses precisam enfrentar ainda a ausência de algumas linhas que transitavam pela cidade. No ano passado, 20 linhas da frota (01A, 01B, 12-14, 13, 18, 20, 23-69, 30A, 31A, 34, 41B, 44, 48, 57, 65, 66, 81, 587, 588 e 592) foram retiradas das ruas sem aviso prévio pela Secretaria de Transporte Urbano (STTU), pegando de surpresa a população. 

Por conta da retirada, Telma Araújo, de 50 anos, que mora no bairro Nova Descoberta e dependia da linha 48, agora precisa pegar dois ônibus para chegar ao trabalho no bairro Barro Vermelho, onde trabalha como doméstica. “Como reduziram as linhas de ônibus, o que ainda passa em Nova Descoberta só vai até a Avenida Bernardo Vieira. De lá, a opção é pegar outro ou pagar um aplicativo de transporte para chegar no trabalho”, contou. 

A reportagem foi às ruas e conversou com alguns passageiros que aguardavam a linha 56 (Via Costeira/Ribeira). Segundo eles, só existem dois veículos circulando, em um intervalo de uma hora. Grande parte dos funcionários da rede de hotéis da Via Costeira depende desse transporte. 

Recepcionista de um hotel, Marcos Vinícius contou que já ficou mais de uma hora e meia aguardando o transporte. “Esse ônibus demora muito, se você perder ele é melhor pegar outra linha para tentar chegar em Ponta Negra. No mês passado, cheguei a esperar duas horas na parada e, quando passou, o motorista falou que demorou porque só tinha um ônibus rodando”, apontou. 

A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) alegou que a frota total do sistema de transporte está operando em 70% atualmente e que a frota de cada linha está variando de acordo com a demanda. A pasta ainda informou que está realizando o redesenho da rede de transporte e monitorando as linhas, porém não informou quando esta ação deve ser concluída. Questionada pela reportagem, a STTU não deu uma previsão de retorno de 100% da frota, nem do retorno das linhas retiradas em 2020. 

Em decreto publicado neste sábado 27, a Prefeitura do Natal afirmou que a frota de veículos do serviço de transporte público de passageiros pode sofrer alteração a qualquer momento, inclusive com alteração de horários e majoração ou minoração da frota, com o fim de evitar a aglomeração de pessoas nos veículos. 

Cenário 

A frota de ônibus de Natal foi inicialmente reduzida para 30% no dia 20 de março, a partir de um decreto municipal assinado pelo prefeito Álvaro Dias (PSDB). À época, o objetivo da redução era reforçar o isolamento social, medida de prevenção ao coronavírus. 

Já em agosto, após a reabertura do comércio, os usuários enfrentaram aglomerações nas paradas e dentro dos veículos. Por isso, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) instaurou um inquérito civil para investigar a superlotação do transporte público. 

Ainda em agosto, a 6ª Vara da Fazenda Pública de Natal determinou o funcionamento de 100% da frota. No entanto, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador João Rebouças, suspendeu uma decisão liminar, atendendo a um pedido feito pela prefeitura. 

Como não houve acordo entre as partes, o Município voltou a ser obrigado a aumentar a oferta de ônibus. Porém, a Prefeitura recorreu ao Tribunal de Justiça e argumentou que a retomada da operação nos moldes do período anterior à pandemia implicaria em abandono aos critérios técnicos de dimensionamento de frota e forçaria a ampliação dos custos de operação, com aumento da tarifa, ou de subsídios por parte da administração pública. 

Em outubro, a população de Natal enfrentou uma greve dos rodoviários. Durante este período, segundo a STTU, 40% da frota circulou nas ruas da capital potiguar. Foram quatro dias de ônibus superlotados, paradas cheias e engarrafamento. 

Os rodoviários iniciaram a greve do transporte público com o objetivo de reivindicar o pagamento dos benefícios dos trabalhadores, tais como o vale-alimentação e o plano de saúde. 

Em dezembro, os usuários de ônibus reclamaram dos transportes lotados de passageiros nos horários de pico, sem conseguir manter o distanciamento social e com os horários das viagens aleatórios. Naquele momento, a STTU disse que a frota seguia em torno de 73%.

Agora RN

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