Envio de oxigênio por Maduro causa espanto entre venezuelanos que vivem em Manaus: 'estou em choque porque o meu país está quebrado'
Venezuelanos que vivem em Manaus ficaram chocados quando souberam que o seu país, liderado pelo ditador Nicolás Maduro, enviará remessas de gás hospitalar para socorrer a capital do estado do Amazonas.
Ao menos dois caminhões-tanque com o insumo já estão a caminho de Manaus. Novas remessas estão previstas, segundo acordo firmado com o governo do Amazonas.
Manaus vive uma crise sem precedentes em seu sistema de saúde devido à falta de oxigênio hospitalar, um insumo fundamental na manutenção de pacientes internados com ou sem Covid-19 em leitos de UTI.
A Folha conversou com um grupo de venezuelanos que vivem num acampamento da “Operação Acolhida”, montado pela prefeitura em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas) sob um viaduto ao lado do terminal rodoviário da cidade.
Se antes da pandemia a luta pela inserção social na cidade já era grande, agora, a situação piorou, diz Claritza Magdalena Suarez, 39.
Suarez organizava suas roupas espalhadas sobre um colchão quando a reportagem da Folha visitou o espaço nesta sexta.
Ali, a maioria dos venezuelanos abrigados são indígenas. Poucos foram vistos usando máscara de proteção no rosto, apesar de o item estar visível entre os seus pertences.
Suarez ainda não sabia da parceria entre o seu país e o Brasil. Informada pela Folha, ficou espantada. “Estou em choque porque o meu país está quebrado e, por isso, eu estou aqui nestas condições.”
O marido dela, que não quis se identificar, também esboçou a mesma surpresa. “Não acredito nisso.”
Mesmo tendo sido quase que obrigados a deixar a sua terra natal quando não tinham nem o que comer no auge da crise venezuelana, o casal ainda foi capaz de soltar uma pista. “Será que o Nicolás mandou essa ajuda porque sabe que muitos venezuelanos estão aqui?”, disse Suarez.
Com um currículo que inclui serviços prestados no setor petrolífero e funções que vão de camareira a auxiliar administrativa, Suarez sonha com um emprego. “Mas ficou difícil de arrumar algo nesta pandemia”, diz.
Como seus compatriotas, ela também vai até o semáforo para pedir dinheiro. Cada centavo conquistado faz diferença. “Aqui eu ganho comida, banho e roupas. Esse dinheiro é para trazer os meus seis filhos que ficaram na Venezuela”, afirma.
Todos ali integram o grupo de 6 milhões de pessoas que deixaram a Venezuela quando o país entrou em colapso. Muitos deles caminharam até a fronteira com o Brasil, na cidade de Pacaraima, em Roraima, em busca de ajuda humanitária.
No acampamento, composto por imensas barracas de lona branca, as famílias venezuelanas conseguem dormir à noite em segurança. Durante o dia, saem pelas ruas para fazer bicos ou pedir dinheiro nos semáforos da capital.
FolhaPress
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