25/07/2020

PRESIDENTE DO BANCO DO BRASIL PEDE DEMISSÃO

Presidente do Banco do Brasil surpreende e pede demissão; ação deve reagir em queda na segunda, diz analista

O Banco do Brasil (BBAS3) informou na noite desta sexta-feira (24) que o presidente da instituição, Rubem de Freitas Novaes, pediu renúncia do cargo.

Em fato relevante entregue à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o banco informou que Novaes entregou seu pedido de renúncia ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

O documento não explica os motivos e diz apenas que o pedido se deu “entendendo que a companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário”.

A saída de Novaes terá efeito em agosto, em data ainda a ser definida e que será comunicada ao mercado.

“Sendo aceita a renúncia pelo Presidente da República, a indicação do novo presidente do BB deverá acontecer na forma do artigo 24, inciso I do Estatuto Social do BB”, completa o fato relevante.

Conforme destaca em nota Marcel Campos, analista da XP Investimentos, a notícia surpreendeu e as ações devem reagir negativamente no pregão da próxima segunda-feira (27).

Campos segue vendo o banco como operacionalmente bem defendido, mas destaca que parte do desconto da ação BBAS3 frente outros do setor ocorra devido à percepção por parte do mercado de riscos políticos.

“Uma vez que a renúncia do CEO ocorre sem a devida transição, com nome de um substituto ou interino a serem selecionados, o movimento pode passar uma sinalização negativa para o mercado. Sendo assim, esperamos melhores explicações por parte do Banco do Brasil”, afirma.

De acordo com o analista, pesa negativamente: i) o momento da saída, em meio a uma crise de saúde e econômica; e ii) por não terem divulgado ainda quem vai assumir o posto ou quem vai ser o interino, o que dificulta a visibilidade do mercado em entender questões importantes como qual será a nova postura do banco frente a temas como criação de valor, defesa do banco e relação com acionistas minoritários.

Por outro lado, avalia, existe ainda a oportunidade de o governo, que é o controlador, selecionar alguém que tenha boa percepção por parte do mercado para liderar o banco, o que viria a ser positivo. “Um executivo de mercado seria ideal, porém também existem oportunidades em funcionários de carreira com boa percepção pelo mercado”.
Relação com o governo

Segundo o Estadão, uma fonte do governo afirmou que a saída de Novaes está alinhada ao movimento de Bolsonaro de se afastar do núcleo considerado radical, sendo que o CEO do BB é ligado ao escritor Olavo de Carvalho.

Recentemente, Novaes questionou a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de impedir que o banco faça propaganda em sites acusados de espalhar fake news.

Na reunião do dia 22 de abril, Guedes criticou a atuação de Novaes à frente do BB. Ele disse que o governo “faz o que quer” com a Caixa Econômica Federal e o BNDES, mas no BB “não consegue fazer nada”, mesmo tendo um “liberal lá”, em referência a Novas, que estava no encontro. “Tem que vender essa porra logo”, disse Guedes.

Para Guedes, o Banco do Brasil “não é tatu nem cobra, porque ele não é privado, nem público”. “Se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.’ . Aí se falar assim: “bota o juro alto”, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, afirmou o ministro da Economia durante encontro com ministros e outras autoridades, entre elas Novaes.

“É um caso pronto e a gente não está dando esse passo. O senhor (presidente) já notou que o BNDES e o … e o … e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”, reforçou Guedes.

Em abril, durante a crise da pandemia do novo coronavírus e as medidas de isolamento para tentar evitar a propagação da doença, Novaes ao Estadão disse que “governadores e prefeitos impedem a atividade econômica e oferecem esmolas, com o dinheiro alheio, em troca”. “Esmolas atenuam o problema, mas não o resolvem. E pessoas querem viver de seu esforço próprio”, disse.

(Com Agência Estado)

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