Bolsonaro começa a fazer com Teich o que fez com Mandetta
Com quase um mês no cargo, Teich, como especialista em saúde, não se desviou do caminho de Mandetta. Sob seu comando, o governo assistiu ao agravamento da pandemia, com a disparada de mortes diárias e a confirmação do fracasso na operação de compra de respiradores no mercado internacional.
As falhas no trabalho da Saúde deveriam cair na conta de Mandetta e Bolsonaro, que não tiveram a capacidade de trabalhar em conjunto para encontrar respiradores no mercado internacional. Mais do presidente do que do ministro da Saúde, é claro, porque o Planalto teria força para atuar na linha de frente, se não tivesse perdido tempo provocando a China, principal mercado de insumos de saúde na pandemia.
Teich chegou com os erros já cometidos. Seus efeitos foram sentidos, no entanto, na sua gestão e a ele coube o sacrifício de anunciar que o país teria de se virar para produzir os respiradores que fazem tanta falta e que não chegarão na velocidade necessária.
Teich também passou a ser refém de Bolsonaro na Saúde. Sem autonomia para nomear seu secretário-executivo, viu o presidente, do seu gabinete no Planalto, mandar um general do Exército assumir o trabalho na pasta, controlando decisões administrativas e atuando como interventor. Uma situação constrangedora, para dizer o mínimo.
A última do processo de boicote palaciano contra Teich foi divulgar, no horário em que o ministro dava a tradicional coletiva de imprensa, a medida de relaxamento do isolamento social para academias, salões de beleza e barbearias. “Não passou, não é atribuição nossa. Isso é atribuição do Presidente da República”, disse o ministro.
O movimento escancarou o papel de bode expiatório de Teich. Todo o sucesso colhido por ele será abraçado pelos militares e por Bolsonaro, que tomaram conta da pasta. Todo o fracasso das decisões, no entanto, será atribuído a Teich.
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