21/05/2020

COM DIREITO A LIVE: A BANDIDAGEM DEITA E ROLA COM A JUSTIÇA

Ao vivo na cela detentos de presídio no Paraná organizam 'live' pelo Instagram 

Leandro Rosa Queiroz (esquerda) e Gabriel Vitor Surady (direita) fizeram transmissão de uma hora em rede social Foto: Reprodução
Leandro Rosa Queiroz (esquerda) e
Gabriel Vitor Surady (direita) fizeram
transmissão de uma hora em rede social
As lives pelo Instagram aumentaram exponencialmente no período de isolamento social contra o coronavírus. Esse tipo de transmissão ao vivo em rede social também quebrou a monotonia de uma quadrilha presa no regime fechado na cadeia pública do município de Sarandi, no interior do Paraná.

O assaltante de banco Leandro Rosa Queiroz e o traficante Gabriel Vitor Surady, ambos de 19 anos, usaram um telefone celular na semana passada de dentro da cela juntamente com outros três presos para conversar com uma garota que se identificou como apelido de Princesinha do Tráfico.

A live ocorreu em um grupo fechado do Facebook chamado Crime World (Mundo do Crime em tradução livre). A transmissão durou uma hora e foi reproduzida no perfil intitulado “Vida Bandida”, do Instagram, e replicada no perfil de fofoca “Vem me buscar, bebê”. As páginas têm 200 mil seguidores e audiência ao vivo mostrou que 31 mil pessoas acompanharam a transmissão.

Os quatro bandidos se revezaram na frente da câmera do celular para xavecar a garota. “Eu me amarro em maloqueiros bonitos feito vocês”, diz a interlocutora. “Nós vamos por você, gata, no nosso grupo do WhatsApp”, anuncia Gabriel. “Vou adorar”, responde a menina. Ela encerra a transmissão fazendo um alerta à quadrilha: “Vamos desligar porque vocês vão acabar aparecendo na televisão”.

Leandro Rosa Queiroz (esquerda) e Gabriel Vitor Surady (direita) fizeram transmissão de uma hora em rede social Foto: Reprodução
Na cadeia pública de Sarandi, a 420 quilômetros de Curitiba, há 170 detentos no regime fechado. A maioria aguarda julgamento. A casa penal era administrada pela Polícia Civil e recentemente teve a carceragem repassada ao Departamento Penitenciário do Paraná. No mesmo prédio funciona uma delegacia de polícia.

O detento que conduz a live é Leandro. Em setembro do ano passado, juntamente com um bando de quatro criminosos, ele assaltou uma casa lotérica no município de Maringá. Eles renderam duas atendentes e levaram de lá cerca de 100 mil reais.

Durante a fuga, os bandidos foram abordados por policiais da Guarda Municipal e houve troca de tiros. Acabaram presos e levados para a cadeia pública. Leandro já tinha passagem pela polícia por assaltos, furtos, porte ilegal de arma e até homicídio. Na live, ele se vangloria dos seus malfeitos. “Quando sair, princesinha, vou te cobrir de joias e pó”, promete.

Gabriel Surany é mais tímido na transmissão, nem por isso menos perigoso. Em abril, ele matou Ryan Silva Freitas, 19 anos, com 26 facadas. A vítima era usuária de cocaína, também revendia drogas e mantinha uma dívida de 3 mil reais com o seu algoz.

Para se livrar do corpo, Gabriel estendeu o cadáver nos trilhos da linha férrea que corta a cidade para simular que o trem o teria atropelado. No entanto, durante uma fuga, Gabriel deixou o celular cair e o aparelho foi encontrado por um policial. No telefone, havia um áudio em que o traficante afirmava que iria por um plano de homicídio em ação.

Não é a primeira vez que detentos usam o celular para participar de lives durante o período de isolamento social. No mês passado, uma quadrilha inteira da Unidade Prisional de Anápolis, em Goiás, assistiu ao show da cantora sertaneja Marília Mendonça no Youtube e ainda teve a audácia de comentar durante a transmissão ao vivo pela plataforma digital. “Salve do Presídio do Recanto do Sol Anápolis-GO”, comentou um presidiário de dentro da cela. “Salve irmão”, devolveu outro detento do pavilhão vizinho.

Tão logo ÉPOCA entrou em contato com o Departamento Penitenciário do Paraná comunicando a live da cadeia pública, o presídio foi submetido a uma operação pente fino e os celulares dos quatro presos que aparecem no vídeo foram apreendidos.

Em nota, o Depen-PR disse o seguinte: “O Departamento Penitenciário do Paraná esclarece que os cinco presos que participaram da transmissão ao vivo pela internet na Cadeia Pública de Sarandi já foram identificados. Uma operação de revista foi realizada no local e o aparelho celular apreendido. Os presos envolvidos foram isolados e serão transferidos para outra unidade penal. Eles ainda responderão criminalmente e administrativamente pelo uso do aparelho. Um inquérito policial e um procedimento administrativo serão abertos para apurar o caso”.

Época

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