11/09/2019

NOS EMBALOS DOS SÁBADOS A NOITE

Por: Carlinhos Supla

No auge da sua economia, alavancada e puxada pela cultura da cana de açúcar nos seus vales verdes, cheios de "bambú-doce." A cidade dos verdes canaviais, (como ficou conhecida), teve o seu apogeu cultural agrícola em destaque. Agraciando o título de terceira economia de todo estado do Rio Grande do Norte.

Assim, a cultura canavieira, sustentava todo o município. Empregando seus pais de família, fortalecendo o comércio da cidade e dominando a política local.
A Usina São Francisco, moendo sem parar, dia e noite, anunciava sua troca de turno, através de sua colossal sirene. Que toda cidade escutava. E a cidade tinha essa sirene como referência de horas. Era o relógio da usina. Como alguns chamavam.  Como o relógio da igreja, que batia o sino de meia-meia hora. 

A cidade dos verdes canaviais, também teve seu apogeu social. Paralelo ao seu apogeu econômico. E nos seus embalos dos sábados a noite, Ceará Mirim, oferecia festas de dar inveja as cidades circunvizinhas.

Toda cidade parava e trabalhava ao mesmo tempo, pelas suas festas tradicionais. Organizadas e coordenadas geralmente pelas turmas concluíntes de cada de seus principais colégios. O comércio era turbinado pelas vendas de roupas e calçados. Pois os trajes das festas eram dotes impecáveis. Seus bares eram lotados em cada dia de festa. Todos concentrados a espera do início das festas. Que geralmente começavam as 23hs. 

O point das festas, era esquina da rua Dr Manoel Varela com a Heráclito Vilar. 
Bares tradicionais como o do saudoso Cleto Brandão, os de frente a biblioteca, Bar e lanchonete do também saudoso Pancinha, como era conhecido. A famosa e frequentadíssima sorveteira. E o histórico Recantão Bar. Do proprietário Zé Walter. Ou, Zé do recantão, como era chamado. Era o bar das festas tradicionais. Faltavam mesas e espaço em dia de festa. Existia uma mesa muito disputada neste bar. "A mesa de baixo da goiabeira." Onde todos viam melhor toda a movimentação de todo o bar. Ninguém simportava com um pequeno esgoto aberto que passava de baixo dessa mesa. Também, era famoso por ser localizado vizinho ao local das festas. O CSE. Centro Esportivo e Cultural. Até então, o único clube da cidade. Assim, todos saberiam que a festa começara. Ao escutar as bandas iniciando os bailes. Não sobrava vagas para estacionamento nas imediações do clube. Muitos, vinham de longe. Honrando assim, a fama dessas festas. 

A economia informal, tomava conta da frente do clube. Vendiam de tudo. Bebidas, cigarros, cachorro quente, sanduíches, churrasquinhos, balas, doces, milho assado e cozinhado, laranja descascadas na hora e até o famoso rolete de cana, que parecia mais um buquê de flores. Sem as flores claro. 

E assim, dava início às festas tradicionais do calendário anual. 

A primeira do ano, era a festa "DETALHES." Inspirada no mito Roberto Carlos. Era realizada no último sábado do mês de abril. Com referência com o mês do aniversário do rei (19/04). Organizada e coordenada pelos concluíntes do então Ginásio Industrial. Mais tarde, Monsenhor Celso Cicco. 

Hora da festa. A multidão descendo em direção ao clube. Na porta, éramos recebidos por seguranças, condenados por Bernardão. Um segurança conhecido no mundo das festas e eventos de grande porte. Parecia mais um gorila de farda. Por ser muito grande e muito forte. (Sem termos pejorativos).
Enquanto entrávamos, "Os Terríveis" dava início a festa com a música DETALHES, de Roberto Carlos. Mas, a festa estava apenas começando. E o irreverente vocalista Roberto, anunciava a noitada:

-"Boa noite meus amores.
Boa noite rapaziada de Ceará Mirim.
Grupo Show Terríveis. 
A maior expressão musical do estado. 
Mais uma vez numa noitada com vocês. 
Vamos curtir..."

Assim, a festa estava oficialmente aberta. Gente animada. Rodas de amigos, clube cheio, em seu salão e sua quadra. Muita paquera e azaracão. Muitos casais num clima romântico. Aliás, muitos são casados hoje e tiveram  início de seus romances nessas festas.

Quem estava acompanhado, era só curtir o momento. Mas, quem estava sozinho, a batalha era boa. O momento mais esperado da festa, era a hora do forró e das músicas lentas. (Assim era chamado as músicas internacionais românticas). Era a hora dos solitários agarrar suas presas. Todos deixavam suas mesas em busca de sua caça. Como os leões fazem nas savanas africanas. De vez em quando, esses leões se "atracavam" nas festas por algumas leoas. Era quando Bernardão entrava em cena. E tudo era resolvido. E todos curtiam a festa até de madrugada.

Ao final, ficávamos em frente ao clube, ou nos bares do point das festas. Depois, subíamos para o passe e fica, para saborear uma inigualável carne de sol com macaxeira e manteiga da terra. Do bar da BR, do saudoso Valdir. Que ninguém se importava com os seus banheiros masculinos escuros e seus vasos sanitários cheios de cocô.  Assim, terminavamos as festas. Amanhecendo o dia.

No calendário, em seguida a festa dos "CORAÇÕES." Inspirada no dia dos namorados. Era realizada no segundo sábado do mês de junho. Organizada e coordenada pelos concluíntes do Colégio Santa Águeda. Mais tarde Colégio de Santa Águeda. 

A terceira do ano, era "QUANDO SETEMBRO VIER" Inspirada na música "Sol de Primavera" de Belo Guedes. Era realizada no último sábado de agosto. Pelos concluíntes do então Escola Estadual de Ceará Mirim. Mais tarde Interventor Ubaldo Bezerra de Melo. Era a festa preferida, junto com DETALHES. 

E por fim, a festa "BALANÇO," com referência ao Colégio Comercial de Ceará Mirim. Mais tarde Edgar Barbosa. Era realizada no último sábado de outubro. Organizada e coordenada pelos concluíntes do Edgar Barbosa. 

Assim, era realizado o calendário das principais festas tradicionais das terras do Barão e de Madalena Antunes.

Outras festas se destacaram, como a do colégio Agricula, "AÇÚCAR E AMOR" que se realizou apenas três anos. E também o seu tradicional ARRAIÁ DO AGRÍCOLA. Que era realizado no mês de julho. Com a festa do sabugo. No próprio salão nobre do colégio. 

Tínhamos  também a festa da padroeira e os arraiás de cada colégio. Realizado em cada colégio. E claro, as inesquecíveis domingueiras.

Assim, se fecha um ciclo de tradição festeira. 

As bandas tinham um papel de destaques nas festas.

Bandas como Terríveis, Impossíveis depois Suy Generis e Grafith, Impacto 5, Labaredas. Eram certas nos sábados de festas no Vale Verde. 

Assim, insisto. Era as nossas festas. Divertíamos muito. Não tínhamos selfs para registrar aqueles momentos. Mas, temos na memória que o tempo não esquece. De tudo de bom, que vivemos e tivemos um dia. 

Tenho dito

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