19/07/2019

A HISTÓRIA DE AUGUSTINHO DA MERDA - POR RICARDO SOBRAL

Artigo. 

Por Ricardo Sobral 

A HISTÓRIA DE AUGUSTINHO DA MERDA – REFLEXÕES INEPTAS DE UM OBSERVADOR ALEATÓRIO, EMBORA ATENTO. 

Narciso, herói de Téspias, Beócia, famoso pela sua beleza e orgulho, segundo a mitologia grego-romana, incontrolavelmente apaixonado por sua própria imagem refletida na água, na impossibilidade física de concretizar sua paixão, cometeu suicídio, afogando-se no lago. Daí o adjetivo narcisista, que define aqueles apaixonados pela própria imagem. 

Para Maquiavel, pai da ciência política, “todos vêem o que pareces, poucos percebem o que és”. Na mineralogia tem um minério chamado pirita, vulgarmente conhecido como ouro de tolo. É por esta razão que a sabedoria popular apregoa que “nem tudo que reluz é ouro”. 

Falar em minério, Augustinho de Papanta foi caçar na serra em uma noite sem luz. Perdeu-se. Três dias depois, com fome e sede, achou uma vereda que dava acesso a uma antiga mina abandonada. 

Ao se aproximar uns trinta metros da garganta da gruta escavada na pedra bruta, viu um brilho amarelado, cintilante, refletindo raios em todas as direções. Cambaleante e encandeado, vendo sua própria imagem refletida naquela substancia não se conteve e gritou com todos os pulmões: bamburrei, achei ouro, estou rico. 

Ajoelhou-se, benzeu-se, balbuciou todas as orações que aprendera na cruzadinha da igreja, espalmou as mãos em concha, apurou os sentidos, juntou todo o seu achado e o aproximou do rosto, sentiu o cheiro. Só então abriu os olhos com que viu que não vira. 

Desse dia em diante passou a ser conhecido por Augustinho da Merda. 

Finou-se em avançado estado de loucura. A quem o cumprimentava, respondia – gato não é lebre. Enxergar não é ver. 

Moral da história: visão é a capacidade de enxergar além do que os olhos são capazes.

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