13/06/2019

HACKERS TAMBÉM ATACARAM 8 AUTORIDADES QUE ATUAM NA LAVA JATO

Ataques de hackers vão além de Moro e Deltan

Além do ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e do procurador da República Deltan Dallagnol, os telefones celulares de pelo menos outras oito autoridades que atuam ou atuaram em investigações ligadas à Operação Lava Jato em quatro Estados, além de um jornalista, foram alvo de tentativas ou invasão por parte de hackers. Entre eles, estão juízes, desembargadores, membros do Ministério Público, delegados da Polícia Federal e até o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Em ofício encaminhado nesta quarta-feira (12), à Polícia Federal, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou a unificação da investigação “de forma que possa esclarecer, além do modo de atuação criminoso, os motivos e eventuais contratantes de um ataque cibernético sistemático contra membros do MPF, principalmente aqueles que atuam nas forças-tarefa da Lava Jato do Rio e Curitiba”. Conforme revelou o Estado, a PF instaurou quatro inquéritos para apurar as invasões. Cada um tem deles tem mais de uma pessoa atingida.

Entre os magistrados que podem ter tido seus celulares invadidos estão o desembargador federal Abel Gomes, relator dos processos da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2); o juiz Flávio de Oliveira Lucas, que atou como substituto nas férias de Gomes; e a juíza federal Gabriela Hardt, que substituiu Moro na 13.ª Vara Federal de Curitiba entre novembro de 2018 e abril de 2019. Os procuradores são Thaméa Danelon, ex-coordenadora da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, Andrey Borges, Marcelo Weitzel e Danilo Dias.

‘Hacker aqui’

O Estado revelou nesta quarta que até mesmo integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) foram alvo de ataque. Eles receberam no grupo do colegiado no Telegram mensagem do celular do conselheiro Marcelo Weitzel que dizia que o caso revelado no domingo pelo The Intercept Brasil, com supostos diálogos entre Moro e Dallagnol, era “uma amostra do que vocês vão ver na semana que vem”.

Os colegas estranharam o tom das mensagens e questionaram Weitzel no grupo. Na sequência, receberam outro texto dizendo: “hacker aqui”. Os conselheiros então ligaram para Weitzel, que afirmou que não estava usando o aparelho no momento dos envios das mensagens. O procurador regional José Robalinho Cavalcanti, candidato à lista tríplice para ser o novo procurador-geral da República, também recebeu mensagens às 21h de terça do suposto invasor do celular de Weitzel.

Fontes da PF desconfiam que o hacker que copiou mensagens publicadas pelo The Intercept não é o mesmo que tenta dialogar com os procuradores. Seria apenas alguém tentando pegar carona na história. A desconfiança ocorre porque não é um padrão de comportamento desse tipo de criminoso.

Até agora, já se sabe que ao menos uma das mensagens divulgadas pelo The Intercept foi adulterada. Quem participou do determinado diálogo diz que a conclusão não foi a mesma divulgada pelo site.

Invasões

Em nota, o TRF-2 informou que no dia 5 de junho os telefones celulares do desembargador Abel Gomes e do juiz Flávio de Oliveira Lucas foram alvo de tentativa de invasão ao aplicativo Telegram. Gomes recebeu ligações telefônicas suspeitas. Ele é relator dos processos das Operações Calicute, Cadeia Velha e Furna da Onça, que têm como réus o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral (MDB), deputados estaduais do Rio de Janeiro, empresários e agentes públicos.

Em nota divulgada nesta quarta, a juíza Gabriela Hardt confirmou que seu telefone foi invadido, mas disse que “não verificou informações pessoais sensíveis que tenham sido expostas”. No texto, ela diz que “entende que a invasão de aparelhos de autoridades públicas é um fato grave que atenta contra a segurança de Estado e merece das autoridades uma resposta firme”.

O Ministério Público Federal no Paraná afirmou, em nota, que “diálogos inteiros podem ter sido forjados pelo hacker ao se passar por autoridades e seus interlocutores”. Já o Ministério Público de São Paulo afirmou que as tentativas de invasão aos telefones funcionais dos procuradores Thaméa Danelon, Andrey Borges ocorreram em maio. O texto diz ainda que os dois já não integravam a força-tarefa da Lava Jato de São Paulo, na ocasião.

Estadão Conteúdo

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