12/05/2018

INFERNAL - *POR RICARDO SOBRAL

Infernal

* Por Ricardo Sobral, advogado.

Na 'Divina Comédia' o poeta florentino Danta Alighiere, que viveu entre 1265 e 1321, teve uma antevisão do inferno.
Do purgatório e do céu também.
É a obra prima da literatura italiana e uma das exponenciais da universal.
O trânsito para sair de Natal na tarde desta sexta feira estava mais infernal cem vezes mais do que o inferno descrito por Dante.
Para fugir dos congestionamentos da Salgado Filho, fui mais ao Leste e peguei a Via Costeira no sentido da Ponte da Redinha.
A intenção era, pela Moema Tinoco, ter acesso a BR 101, entrar em Vila de Fátima, e chegar a Ceará-Mirim passando por Oitizeiro, Massangana e Tabuão.
Ficou na intenção!
O engarrafamento serpenteava da estátua de Iemanjá até se perder de vista por sobre a ponte.
Depois de dois quartos de hora consegui desviar à direita, passar por baixo da ponte  seguir pela Ribeira no sentido da Ponte de Igapó na esperança proustiana de recuperar parte do tempo perdido.
No Alecrim, o engarrafamento começava em frente à antiga Agência São Luiz, na Mário Negócio.
Foi o momento que descobri que também havia santo no inferno.
Trânsito nervoso, primeira marcha, buzinadas, veículos subindo calçadas, ultrapassando canteiros, xingamentos, impropérios, insultos, batidas, atropelamento, de tudo se via.
No ponto mais demorado a causa da pausa era determinada pela curiosidade alheia: as pessoas paravam para perguntar como o motoqueiro estendido no chão havia caído.
Do Alecrim ao trevo de Igapó gastei duas horas e meu estoque de paciência, embora sem manifestar sequer um gesto de irritação.
No total foram duas horas e meia de outra só para sair de Natal.
É certo, de um lado, que a malha viária e vias de acessos não cresceram de modo a suportar o aumento vertiginoso da quantidade de veículos em circulação. De outro lado, não é menos certo, que parte considerável do problema do trânsito se vincula à qualidade do nosso motorista, que reflete a educação do nosso povo.
Até agora, pesaroso, só me caiu na telha uma alternativa: dormir de dia e trabalhar à noite ou viajar de trem.

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